INTRUSISMO PROFISSIONAL...BASTA!
Conversas como “eu sou terapeuta musical, não frequentei nenhum curso mas tenho sensibilidade para isto” ou “sou terapeuta da fala e toco flauta nas sessões portanto, faço musicoterapia” ou “sou músico, dou concertos num lar e isso é terapêutico” ou “trabalho num hospital e coloco os cds preferidos que o meu utente gosta, logo faço musicoterapia” ou ainda "fiz um workshop e agora estou a tentar aplicar musicoterapia no meu trabalho"…NÃO, nenhuma destas hipóteses é a descrição de Musicoterapia!
CADA MACACO NO SEU GALHO!
A música é um recurso de bem-estar que merece ser usado SIM por muitos profissionais mas para ser chamado TERAPÊUTICO e TERAPIA com música… então é MUSICOTERAPIA e precisa…de quem? Do MUSICOTERAPEUTA!
Tal como nos cursos universitários de Musicoterapia não se ensinam os alunos sobre a forma como se ensina uma criança a tocar um instrumento musical (ZERO, não aprendemos a ser Professores de Música e sim Musicoterapeutas), também nos cursos universitários de Educação Musical não se ensinam os alunos do curso a saber como agir se, por exemplo, tocamos uma música significativa para uma pessoa vulnerável (em psiquiatria, cuidados paliativos, etc.) e ela descompensa emocionalmente... repito aqui também: ZERO!
QUEM ENSINOU O MÚSICO A TRABALHAR AS EMOÇÕES DE UM UTENTE ATRAVÉS DA MÚSICA? Ninguém…
Ao partilhar este desabafo, saibam que tenho formação nas duas áreas e sei o que me ensinaram em cada um dos cursos.
Então seguem mais alguns exemplos de quando expomos as pessoas a FALSOS MUSICOTERAPEUTAS.
O QUE PODE ACONTECER DE MAL…
Despoletar uma crise de hipersensibilidade auditiva se o utente tiver uma Perturbação do Espectro do Autismo
Provocar uma convulsão numa pessoa que tem Epilepsia porque se o profissional não for Musicoterapeuta, não sabe a quantidade de estímulo auditivo que pode dar
Desencadear descompensações emocionais se a pessoa tiver uma Doença Psiquiátrica e a música for apresentada sem haver qualquer mecanismo de contenção e de expressão emocional adequada
Descompensações emocionais também em pessoas em idade avançada ou em Cuidados Paliativos, que podem fazer uma revisão da sua história de vida através da audição das suas músicas preferidas, mas essas músicas não vêm sozinhas, as memórias boas e más associadas também vêm e têm de ser trabalhadas cuidadosamente…exemplo? A simples canção da "Laurindinha vem à janela", aconteceu comigo, a utente relembrou de um familiar próximo que tinha morrido na guerra, como menciona a canção.... mas eu tinha aprendido o que fazer, se fosse um Músico, o que faria?
TENTAR SER MUSICOTERAPEUTA SEM A FORMAÇÃO ADEQUADA PODE DAR MUITO ERRADO!
Conseguiria descrever muitas mais situações em que expor meramente a pessoa à música pode ser prejudicial:
A música tanto pode reduzir como pode AUMENTAR a ansiedade, uma pessoa doente está muito mais vulnerável e ficar negativamente afectada por um trabalho de reminiscência que não é realizado por um profissional qualificado
Numa pessoa com doença de Alzheimer, se estiver a cantar uma canção e ficar aflita com os seus esquecimentos na música que antes conhecia, que preparação é que o Músico teve para lidar com esta situação? Que técnicas e métodos aprendeu?...
Por último, se são Músicos e dizem que são “terapeutas musicais” porque valorizam muito os benefícios desta área, saibam que estão potencialmente a prejudicar algum utente vosso (que isso vos pese na consciência), mas garantidamente SIM a prejudicar o acesso destes utentes a Musicoterapeutas qualificados e aos reais benefícios da Musicoterapia.
Se fazem isso não porque está na moda ser terapeuta de alguma coisa e sim porque valorizam a Musicoterapia, então ÓPTIMO, são perfeitos candidatos mas é para irem frequentar o curso universitário de Musicoterapia…dá trabalho! Dá… é uma LICENCIATURA ou MESTRADO em Musicoterapia?...É… Que tenham a coragem e que a Universidade Lusíada de Lisboa vos acolha bem na formação oficial!
Como quem está mal não são os Musicoterapeutas a reclamar desta situação e sim os ditos “terapeutas musicais” ou “falsos musicoterapeutas”, qualquer dia, COM TODO O DIREITO, ponho a “boca no trombone” e menciono publicamente os NOMES de quem não tem habilitações e divulga que faz (pseudo)Musicoterapia.
O Músico não faz o trabalho do Professor de Música, que não faz o trabalho do Musicoterapeuta...
Cada um com a sua formação, certo? Então...CADA MACACO NO SEU GALHO!
Quase todas as semanas conheço um Falso Musicoterapeuta e não é quase todas as semanas que conheço um Musicoterapeuta Qualificado…
INTRUSISMO PROFISSIONAL… BASTA!